Retrocessos enfrentados atendem aos interesses do grande capital

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A manhã do segundo dia de congresso foi de palestras e discussões que embasaram os grupos de trabalho. No primeiro momento, foi exibido um vídeo com um trecho da palestra do professor e pesquisador argentino Esteban Castro durante a audiência pública realizada em setembro na Assembleia Legislativa que debateu os riscos da privatização/PPP da água.
Posteriormente, o professor universitário e economista Fábio Sobral explanou sobre a conjuntura econômica mundial.  Segundo ele, o Brasil vive uma intensificação do modelo capitalista e os retrocessos impostos de cima para baixo no País atendem aos interesses do grande capital. Sobral apresentou diversos dados de estudos internacionais que apontam que há um movimento para se criar uma sociedade elitista com grande concentração do poder econômico e o empobrecimento e endividamento da população. “Os 16% mais ricos (que consomem 78% dos bens manufaturados do mundo) estão constituindo uma outra humanidade. Estão se livrando dos consumidores de baixa renda. Querem manter apenas o consumo de luxo. Querem as pessoas com baixos salários vivendo apenas no nível da sobrevivência”, ressalta.
O professor apresentou um estudo do Instituto McKinsey que analisou o efeito da robotização em 46 economias. O levantamento aponta que até 2030 irão desaparecer no mundo até 800 milhões de empregos devido ao impacto das novas tecnologias na vida dos trabalhadores. Só não desaparecerão empregos com salários baixos. Para ele, é necessário fazer grande confronto contra o poder das grandes corporações. “Não apenas de combate, mas de boicote. Não consumir produtos das corporações que nos acham cada vez mais dispensáveis. O projeto das grandes corporações é um projeto assassino”, alerta.
Sobral concluiu sua fala lembrando da importância de se combater a privatização do saneamento: “Se vocês resistirem, a sociedade fecha com vocês na questão da água”.
O presidente do PCdoB/CE, Luis Carlos Paes, também participou da mesa de palestras e ressaltou que defender a água é defender a saúde pública. Ele propôs que sejam feitas pressões constantes sobre os políticos golpistas a todo momento. “Golpearam o País para implantar um projeto neoliberal forte”, criticou. Paes lembrou que a justificativa para a reforma previdenciária é uma falácia, pois o sistema previdenciário é superavitário. “É preciso que a classe trabalhadora discuta esses temas, se mobilize ininterruptamente e ajude a fazer a reconstrução do País”.
O vice-presidente nacional da CTB, Claudemir Nonato, e o presidente estadual da CTB, Luciano Simplício, também estiveram presentes e e reforçaram a necessidade de se combater as privatizações. “O projeto privatista não foi bom para a sociedade no passado. Veja o que aconteceu com a Coelce”, lembrou Simplício.

Entrevista: Professor Fábio Sobral

As reformas que estão sendo impostas no País atendem a que tipo de interesse? O que está acontecendo no Brasil pós-golpe é, de alguma forma, um acirramento do modelo capitalista?
Acho que houve uma ruptura internacional. As grandes corporações romperam com aquele modelo de mercado de consumo ampliado. Elas estão concentrando a renda, a riqueza, a propriedade e o consumo. Elas partiram então para subverter as relações trabalhistas e previdenciárias para nível ainda muito pior do que o do século XIX. É o capitalismo retornando ao seu modelo de superexploração da força de trabalho. O golpe na verdade é consequência desse projeto de retirada da renda das camadas trabalhadoras para ampliar a concentração.

A volta das políticas privatistas, inclusive sobre o saneamento, contribuem para o aumento da exclusão social do País? De que forma?
Contribuem. As privatizações vão resultar em preços mais altos, o que significa que você vai usar parte maior da sua renda para pagar pelos mesmos serviços. Quando você privativa a telefonia, a água e a luz sempre há aumentos de preços, sempre há redução de salários pagos às camadas baixas. Você terceiriza trabalho e diminui as garantias sociais. Então você concentra os lucros e ao mesmo tempo reduz o ganho dos trabalhadores. Há um movimento duplo: aumento de preço com redução de ganhos. Então há um empobrecimento dessas camadas trabalhadoras e um beneficiamento das grandes corporações.

Diante do cenário atual, qual a saída para a classe trabalhadora?
Eu acho que há várias saídas que nós temos que tentar: boicote aos produtos das grandes empresas, pressão através de movimentos sociais de luta, a organização de atividades de produção comunitária para fugir ao domínio das corporações e a não aliança, em momentos eleitorais, com setores do grande capital. É preciso tentar o máximo possível um confronto em todas as esferas, da esfera parlamentar à esfera do consumo.