A insatisfação com a política de corte de gastos da Cagece fez os trabalhadores da empresa promoverem uma manhã de protesto em frente à sede da Companhia, nesta sexta (04/03). O ato de repúdio foi convocado pelo Sindiagua e contou com participação também de trabalhadores da Cogerh, dos SAAEs e da SAAEC que apoiaram a luta dos cagecianos.
O não pagamento da PR (Participação nos Resultados), das promoções por mérito (que já não foram pagas em 2015) e o novo adiamento da implantação do Plano de Cargos e Remuneração (PCR) são algumas das “tesouradas” que motivaram o protesto que contou com grande adesão da categoria. Em seu discurso, Jadson Sarto, presidente do Sindiagua, lembrou que os trabalhadores não podem aceitar calados uma política de contenção de gastos que penaliza a somente a categoria e deixa livre os gastos com contratações de empresas privadas ou de assessorias externas, desmerecendo os próprios empregados. “É um desrespeito com os quadros da Companhia, que estão no dia-a-dia vestindo a camisa da empresa. Essa política de cortes só intensifica um processo de sucateamento da Cagece, que já vem sofrendo com as más gestões de governos anteriores. E isso prejudica também a população e a imagem da empresa”, reforça Jadson Sarto, presidente do Sindiagua. Ele alertou que as medidas da direção da Companhia afetam diretamente também a população, como por exemplo o corte das horas-extras e do uso de veículos da empresa que reduzem sensivelmente a capacidade de atendimento. “Em plena crise hídrica, vazamentos de água levam vários dias para serem consertados. E não é por culpa dos trabalhadores, que estão no se esforçando para prestar um serviço de qualidade, é por uma visão equivocada de gestão”, reforça.
A direção do Sindiagua vai aguardar uma reunião com a presidência da Cagece para definir os próximos caminhos do movimento. Durante o protesto, foi distribuído uma nota pública assinada pela direção do Sindiagua. Confira:
VALORIZAR O TRABALHADOR PARA FORTALECER AS POLÍTICAS DE SANEAMENTO E CONVIVÊNCIA COM SECA
NOTA PÚBLICA À SOCIEDADE CEARENSE
A direção do Sindiagua, em conjunto com os trabalhadores e trabalhadoras da área de saneamento, vem a público repudiar a série de medidas adotadas pelo Governo do Estado e pela direção da Cagece que têm causado sérios prejuízos aos empregados da Companhia, e consequentemente, ao serviço de saneamento prestado à população cearense. Sob a justificativa de reduzir gastos, a direção da Cagece:
• Vem cortando as horas-extras dos trabalhadores e uso de veículos da Companhia, reduzindo sensivelmente a capacidade e agilidade de atendimento dos empregados à população, inclusive no que diz respeito aos vazamentos da rede de abastecimento que causam enorme desperdício de água. Desobstruções de esgoto e ligações também atrasam gerando insatisfação aos usuários;
• Está em atraso no pagamento de diárias dos seus empregados, o que prejudica, inclusive, a qualidade das obras de saneamento que tem acompanhamento e fiscalização limitados;
• Não tem convocado os aprovados do cadastro de reserva do concurso público que esperam há mais de dois anos para serem chamados;
• Decidiu unilateralmente adiar mais uma vez a implantação do Plano de Cargos e Remuneração (PCR), descumprindo o Acordo Coletivo (ACT);
• Afirmou que não vai pagar as promoções por mérito (que desde o ano passado não são pagas)
• Tem ameaçado não pagar a PR (Participação nos Resultados), benefício concedido anualmente pela Companhia como premiação ao esforço dos trabalhadores para que a empresa atinja suas metas. O não pagamento fere um direito conquistado pelo trabalhador a muito custo, que está previsto no ACT. Para ser garantido, o Acordo prevê a possibilidade de a empresa realizar alterações nas metas estabelecidas, em casos de dificuldades financeiras ou operacionais, provocadas por situações como a crise hídrica. Mesmo com o amparo legal do Acordo, a direção da Cagece não sinaliza nenhuma intenção de pagar a PR, algo que nunca aconteceu desde que o benefício foi implantado.
O Sindiagua lembra que fazer seus empregados pagarem uma conta que não pertence a eles não é saída para a crise econômica. São os trabalhadores os principais agentes que podem ajudar qualquer empresa a retomar seu crescimento econômico. Se a Cagece passa por dificuldades financeiras, isso se deve em grande medida a sucessivos erros de Governos que não investiram em uma política de saneamento e às más gestões da Companhia:
• A Companhia foi a estatal que mais demorou a aplicar seu reajuste da tarifa de água, reduzindo sensivelmente sua arrecadação, o que impediu que as metas da PR fossem atingidas;
• A empresa está sofrendo com as ingerências dos governos passados que não priorizaram saneamento e prejudicaram financeiramente a estatal (como o bloqueio de R$19 milhões dos cofres da Cagece em virtude do não pagamento de alguns dos serviços de construção do Canal do Trabalhador na época do Governo Ciro Gomes);
• O saneamento básico sofre com baixo investimento. Nos últimos anos, apenas 2% das despesas do Estado foram para o saneamento.
• Faltou um planejamento adequado na aplicação do Plano de Reconhecimento por Serviços Prestados (PRSP). A pressa em tirar empregados experientes da Companhia onerou substancialmente suas receitas em curto espaço de tempo;
• A atual direção da empresa, confortavelmente remunerada com gordas gratificações e ironicamente formada em sua maioria por cagecianos, além de prejudicar seus colegas de trabalho, tem contraditoriamente aumentado nos últimos anos os gastos com pagamento de assessorias externas (gerando um custo superior a R$ 2 milhões anuais), num claro desrespeito aos técnicos e profissionais que integram o quadro funcional da Cagece e também à população;
Diante do exposto, a direção do Sindiagua vem reivindicar medidas a fim de solucionar esses problemas e pôr um fim à política de cortes que não causam prejuízos apenas aos trabalhadores e suas famílias, mas também sucateiam a empresa e enfraquecem as políticas de saneamento público, de enfrentamento aos efeitos da estiagem e de convivência com o semiárido, num momento em que nosso Estado enfrenta uma das piores secas da sua história e necessita mais do que nunca da presença do Estado e da Cagece.
A direção do Sindiagua
Fortaleza, março de 2016