A Copa do Mundo e o risco de ficarmos sem o básico

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Nos últimos anos o Brasil tem elevado os investimentos em saneamento, recuperando os danos do período neoliberal, quando o setor praticamente estagnou. O Ceará, porém, não vem no mesmo ritmo. Nem a realização da Copa do Mundo tem impulsionado o Governo do Estado a solucionar problemas históricos de saneamento em Fortaleza.

São várias as obras de infraestrutura anunciadas para o evento esportivo mais esperado do mundo. Mas, a falta de saneamento em Fortaleza é uma demonstração clara de que o básico continua sendo deixado em segundo plano. A construção do novo Centro de Eventos em uma área sem saneamento comprova essa tese.

O fato é que a Copa do Mundo corre sério risco de acontecer em uma cidade com vários bairros enfrentando grave escassez no fornecimento de água. Hoje, a quase 500 mil moradores é negado sistematicamente um direito essencial. O problema chega a atingir hospitais, comprometendo o atendimento à saúde da população, num desrespeito explícito à dignidade humana. As obras físicas que podem solucionar a falta d’água acontecem tardiamente e lentamente e, enquanto isso, não há nenhum plano de contingência eficiente que amenize o sofrimento da população.

Os turistas que virão para assistir aos jogos, poderão encontrar uma cidade com praias, lagoas e o Rio Cocó, nosso grande patrimônio ambiental, poluídos por falta de saneamento. Uma cidade onde boa parte da rede de esgoto existente se encontra ultrapassada, danificando o asfalto e dificultando o tráfego.

Se o Governo do Estado quer, de fato, deixar um grande legado pós-copa para a população de Fortaleza, deveria começar pelo saneamento. E uma das principais medidas a serem tomadas deveria ser a realização imediata do concurso público, reivindicação permanente dos trabalhadores da Cagece e do Sindiagua que vem sofrendo sucessivos atrasos e indefinições. O último concurso foi realizado há 11 anos. Hoje a empresa possui somente mil funcionários próprios para atender toda demanda do Estado.  Não há funcionários para operar, por exemplo, a Estação de Tratamento de Água (ETA) Oeste, um dos motivos de ela não estar ainda em funcionamento. Enquanto isso, serviços de saneamento ficam nas mãos de um rodízio de profissionais terceirizados com condições de trabalho precarizadas. O número de terceirizados é o triplo de funcionários de carreira.

Defendemos um concurso público para aumentar a mão-de-obra do saneamento, regularizando as atividades-fins da Cagece, sem demissões de trabalhadores, valorizando os terceirizados. Queremos que o saneamento seja tratado com prioridade e não com descaso.

Jadson Sarto
Coordenador Geral do Sindiagua e Presidente da CTB-CE

Artigo publicado no dia 05/11/2012 no jornal O Povo