O descaso com o básico

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Vivemos em um Estado onde a maior parte do nosso território se encontra no semiárido nordestino. Isso deveria ser motivo suficiente para o Governo do Estado tratar o acesso à água como prioridade. Mas não é. Recentemente a Cagece anunciou o racionamento de água. Mas em Fortaleza e na região metropolitana o racionamento já é uma realidade há algum tempo. Vários bairros da cidade, onde moram cerca de 500 mil pessoas, convivem de maneira forçada (em alguns casos, há pelo menos 10 anos) com o dia-a-dia de uma cidade em racionamento. A água quando chega é pouca e só aparece nas torneiras de madrugada, obrigando moradores a perderem noites de sono para armazená-la da maneira que podem. Mas, diferente do sertão, a causa do desabastecimento em Fortaleza e na região metropolitana não é a seca e, sim, a falta de planejamento. O Governo do Estado não investiu a tempo em uma rede de abastecimento que hoje se encontra completamente ultrapassada, sem condições de atender toda a cidade.
A falta de prioridade com o saneamento não se restringe à distribuição de água. No Estado, apenas 37% das moradias têm acesso à rede de esgoto. Fortaleza é hoje a quinta capital com maior número de internações por doenças relacionadas a infecções intestinais provocadas por falta de esgotamento. A cobertura da rede de esgoto na cidade cresceu irrisórios 2,28% nos últimos quatro anos. Se mantivermos esse ritmo, serão necessários mais 80 anos para atingirmos a universalização.
No interior, não faltam exemplos do descaso: em pleno segundo ano de estiagem, não há uma campanha de uso consciente da água, muito menos uma política eficiente de convivência com o semiárido; o Governo do Estado possui apenas seis máquinas perfuratrizes para instalação de poços profundos em todo o Estado; os carros-pipa não chegam às comunidades mais distantes; a pouca reserva hídrica existente em açudes praticamente exauridos está poluída, causando doenças em moradores de várias comunidades; e um simples concurso público que poderia minimamente melhorar o atendimento da Cagece se arrasta sem sair do papel. Resultado: em várias cidades do interior a Cagece não conta sequer com um funcionário próprio para resolver os problemas de desabastecimento.
O Governo, que investe milhões em aquário e shows para inaugurar suas obras, se esquece do básico: cuidar do bem mais vital para a vida humana, a água.

Jadson Sarto
Coordenador geral do Sindiagua

Artigo publicado na edição do dia 22/03/2013 do jornal O Povo.