O Governo do Estado e a velha indústria da seca – confira artigo do coordenador do Sindiagua

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O jornal O Povo publicou, nesta terça (04/02), artigo do coordenador geral do Sindiagua, Jadson Sarto, através do qual ele faz uma crítica às ações e políticas do Governo do Estado no enfrentamento aos efeitos da estiagem. Confira o texto na íntegra:

O Governo do Estado e a velha indústria da seca
Ao mergulhar numa caixa de descarga para tentar consertar vazamentos decorrentes do rompimento da adutora de Itapipoca e, posteriormente, prometer crédito de R$ 200 nas contas da Cagece daquele município, o governador do Ceará relembrou táticas políticas que perpetuam a velha indústria da seca. Fez de questão grave – a falta d’água – ação autopromocional. Mais: tentou, com este episódio, esconder a ineficiência de seu governo na execução e fiscalização da obra da adutora. Não por acaso a concessão do tal crédito de R$ 200 motivou o Ministério Público Eleitoral a instaurar procedimento administrativo para investigar o governador Cid Gomes por suposto abuso de poder político. O MP argumenta que a atitude pode, de fato, ter sido motivada por finalidades eleitorais.
Afora o questionamento legal, o fato merece reflexões sobre como a seca vem sendo tratada no Ceará. Quase 100% do território cearense está no semiárido, o que por si só torna a água nosso bem mais precioso. Deveria, portanto, ser tratada com máxima prioridade. Mas o que vemos, apesar dos avanços sociais recentes que o País conquistou, é a repetição de cenas do atraso: carros-pipa com água contaminada, gado morrendo, comunidades desabastecidas e promessas não cumpridas. Resultados da falta de ações preventivas que promovam real política de convivência com o semiárido.
É preciso mudanças. Não cabe mais aceitar que a falta de chuva seja usada como desculpa oficial para a calamidade da seca. A seca é também política. Basta lembrar: o governador que prometeu desconto de R$ 200 nas contas da Cagece em Itapipoca é o mesmo que implantou o novo imposto de contribuição por melhorias e que poderá cobrar pelos “benefícios” das obras que executa. O governo que gasta milhões com propaganda em TV, rádio e jornal é o mesmo que não investe um tostão em uma campanha publicitária que oriente a população a economizar água. É o mesmo que não possui um programa de perfuração de poços consistente e que está distante das comunidades rurais e entidades que militam pelo direito à terra e à água.
Finalizo questionando: como devem estar se sentido os milhares de cearenses atingidos pela seca que também estão sofrendo com falta d’água por falhas do Estado e não tiveram direito aos mesmos R$ 200? E quanto às inúmeras vítimas da fracassada política de segurança pública do nosso Ceará, o governador também disponibilizará o mesmo “crédito”?

Jadson Sarto – coordenador geral do Sindiagua

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